EMERSON LEÃO Ex-goleiro do Palmeiras, Corinthians e Seleção Brasileira
por Rogério Micheletti
Leão nasceu no dia 11 de julho de 1949, em Ribeirão Preto (SP), e começou a carreira no São José (SP) e em seguida jogou no Comercial (SP). Em 1969, ele teve o passe comprado pelo Palmeiras, clube no qual se tornou ídolo em pouco tempo e logo ganhou uma oportunidade na seleção brasileira.
Em 1970, com apenas 20 anos, ele foi terceiro goleiro da seleção brasileira que conquistou a Copa do Mundo do México em 70. Em 1974 e 1978, ele foi o titular do Brasil nos mundiais da Alemanha e Argentina.
No segundo semestre de 1978, o Vasco da Gama contratou Leão, que permaneceu em São Januário por dois anos e foi defender o Grêmio, equipe na qual conquistou o Brasileiro de 1981.
No Parque São Jorge, apesar de não ter bom relacionamento com Sócrates, Casagrande, Wladimir e companhia, Leão foi peça fundamental na conquista do Paulista de 1983. A defesa dele no chute de Marcão, naquela final, ainda está na retina de muita gente. "Foi uma defesa espetacular. O Leão foi o principal jogador daquela partida", diz o advogado Walmir Micheletti, que estava no Morumbi naquele 11 de dezembro de 1983.
Emerson Leão, o Leão, um dos maiores goleiros do futebol brasileiro em todos os tempos, tornou-se treinador profissional e chegou a comandar a Seleção Brasileira em 2000.
Em dezembro de 2016, Leão aceitou ser diretor-executivo da Portuguesa para a temporada seguinte, sem receber salário. Deixou a Lusa em 02 de março de 2017, alegando não concordar com diversas atitudes da diretoria do clube do Canindé.
Leão nasceu no dia 11 de julho de 1949, em Ribeirão Preto (SP), e começou a carreira no São José (SP) e em seguida jogou no Comercial (SP). Em 1969, ele teve o passe comprado pelo Palmeiras, clube no qual se tornou ídolo em pouco tempo e logo ganhou uma oportunidade na seleção brasileira.
Assim que chegou ao novo clube, Leão mostrou ter personalidade forte, como lembra o ex-volante Dudu. "Ele já queria ganhar salário igual ao meu, ao do Ademir da Guia e aos dos jogadores mais antigos. O Leão sempre teve personalidade. E sempre foi um grande profissional", conta Dudu.
No Verdão, Leão formou uma das maiores defesas da história do clube ao lado de Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca. Além disso, o goleiro colecionou títulos enquanto esteve no Palestra Itália, entre eles os paulistas de 1972, 1974 e 1976, os brasileiros de 1972 e 1973 e o Robertão de 1969.
Em 1970, com apenas 20 anos, ele foi terceiro goleiro da seleção brasileira que conquistou a Copa do Mundo do México em 70. Em 1974 e 1978, ele foi o titular do Brasil nos mundiais da Alemanha e Argentina.
No segundo semestre de 1978, o Vasco da Gama contratou Leão, que permaneceu em São Januário por dois anos e foi defender o Grêmio, equipe na qual conquistou o Brasileiro de 1981.
Na Copa da Espanha de 1982, embora fosse o melhor goleiro brasileiro na época, Leão foi rejeitado por Telê Santana, que preferiu levar Valdir Peres (São Paulo), Paulo Sérgio (Botafogo) e Carlos (Ponte Preta).
Em 1983, a diretoria do Corinthians, atendendo pedido dos jogadores que formavam a "Democracia Corintiana", contratou o goleiro. "Eu apoiei a contratação do Leão na época, pois o chava um grande goleiro. Mas nunca gostei dele como pessoa", diz Sócrates, o principal jogador do Timão no começo dos anos 80.
Em 1983, a diretoria do Corinthians, atendendo pedido dos jogadores que formavam a "Democracia Corintiana", contratou o goleiro. "Eu apoiei a contratação do Leão na época, pois o chava um grande goleiro. Mas nunca gostei dele como pessoa", diz Sócrates, o principal jogador do Timão no começo dos anos 80.
No Parque São Jorge, apesar de não ter bom relacionamento com Sócrates, Casagrande, Wladimir e companhia, Leão foi peça fundamental na conquista do Paulista de 1983. A defesa dele no chute de Marcão, naquela final, ainda está na retina de muita gente. "Foi uma defesa espetacular. O Leão foi o principal jogador daquela partida", diz o advogado Walmir Micheletti, que estava no Morumbi naquele 11 de dezembro de 1983.
Em 1984, ele retornou ao Palmeiras, onde permaneceu até 1986, ano que disputou a Copa do Mundo de México (era reserva de Carlos). Em 1987, Leão foi para o Sport Recife e no mesmo ano acumulou as funções de goleiro e treinador.
Em sua carreira de técnico, além do Sport Recife, Leão dirigiu o São José (SP), o Coritiba, o Palmeiras, o Shimizu do Japão, o Verdy Kawasaki do Japão, o Juventude (RS), o Atlético Paranaense, o Atlético Mineiro, o Santos, o Internacional e o Grêmio, a Seleção Brasileira em 2000 (na Copa das Confederações), o Juventude mais uma vez, o Santos a partir de 2002, o Cruzeiro em 2004 e o São Paulo, também em 2004.
Em abril de 2005, pouco antes do início do Campeonato Brasileiro, Leão deixou o Tricolor e assumiu o japonês Vissel Kobe. Alegou ter uma dívida de gratidão com um ex-jogador e à época dirigente do time japonês.
Ficou no comando técnico do clube nipônico por apenas dois meses, pois não conseguiu evitar o rebaixamento da equipe. Em quatro jogos como técnico do Vissel Kobe, Leão somou duas derrotas, um empate e apenas uma vitória. Assumiu o Palmeiras no dia 18 de julho de 2005. "Fico feliz por retornar ao clube 16 anos depois. Espero fazer um bom trabalho", falou Leão em sua apresentação na Academia de Futebol. Mas o casamento como técnico do Verdão não durou nem um ano.
Em abril de 2006, após vexatória derrota para o Figueirense por 6 a 1, em jogo válido pela segunda rodada do Brasileirão, Leão rescindiu o contrato com o Palmeiras. Assumiu o São Caetano e, logo em seguida, o Corinthians, então lanterna do Brasileirão. Uma de suas primeiras atitudes no Parque São Jorge foi bater de frente com os argentinos Carlitos Tevez e Mascherano.
"O Tevez não pode ser capitão do time porque ninguém entende o que fala", falou Leão. Tevez e Mascherano deixaram o Corinthians e foram para o West Ham, da Inglaterra.
Leão não durou muito tempo no Parque São Jorge. Deixou o Corinthians durante o Campeonato Paulista de 2007, no dia 3 de abril. No Brasileirão do mesmo ano, ele trabalhou no Atlético-MG. No início de 2008, aceitou um convite de Marcelo Teixeira para retornar ao Santos.
Leão não durou muito tempo no Parque São Jorge. Deixou o Corinthians durante o Campeonato Paulista de 2007, no dia 3 de abril. No Brasileirão do mesmo ano, ele trabalhou no Atlético-MG. No início de 2008, aceitou um convite de Marcelo Teixeira para retornar ao Santos.
No dia 27 de maio do mesmo ano, o treinador entrou em acordo com a diretoria e deixou o Peixe pela terceira vez, depois de ter sido eliminado prematuramente do Paulistão e da Libertadores. O último jogo dele à frente do Santos foi disputado no dia 25 de maio - derrota por 4 a 0 para o Cruzeiro, no Mineirão.
Em julho de 2008, o ex-goleiro foi convidado pelo Al-Sadd, do Catar. A experiência no mundo árabe durou apenas cinco meses. Em novembro, 15 jogos e 3 derrotas depois, Leão foi demitido e retornou ao Brasil.
Em janeiro de 2009, assumiu pela 3ª vez na carreira ao Atlético-MG. E, pela 3ª vez, deixou o Galo. Foi dispensado em maio, depois de perder a decisão do Campeonato Mineiro para o Cruzeiro por 5 a 0 e o primeiro jogo das oitavas-de-final da Copa do Brasil para o Vitória por 3 a 0, dias depois.
Assumiu o time do Goiás em 2010, mas a fraca campanha do Esmeraldino no Brasileirão daquela temporada fez com que o comandante fosse demitido no mês de agosto.
Vitorioso como técnico, apesar da insistência
O ex-goleiro conseguiu títulos também em sua carreira de treinador. Comandando a equipe do Santos, foi campeão brasileiro de 2002 (ganhou do Corinthians), vice da Libertadores em 2003 (perdeu para o Boca Juniors) e vice do Campeonato Brasileiro em 2003 (perdeu para o Cruzeiro).
Em 2004, como 3ºcolocado do Campeonato Brasileiro, classificou o São Paulo para a Libertadores de 2005 e foi campeão paulista de 2005 pelo Tricolor do Morumbi. Depois, trabalhou no Japão e voltou ao Brasil para dirigir o Palmeiras. Conseguiu classificar o time alviverde para a Libertadores de 2006. Ainda em 2006, esteve no São Caetano (apenas em três partidas) e assumiu o Corinthians, que amargava as últimas colocações do Brasileirão.
Deixou o alvinegro do Parque São Jorge no dia 3 de abril de 2007, após o time corintiano ter fracassado no Paulistão (sequer conquistou vaga para a fase semifinal da competição).
Embora a carreira de técnico esteja em franca decadência, Leão quer continuar na área. Por isso, foi chamado em 2009 de "ex-treinador em atividade".
Em 2002, revelou jogadores como Alex (zagueiro), Robinho (atacante), Diego (meia), Elano (meia) e Renato (meia). Emerson Leão é casado, pai de duas filhas e, além de profissional de futebol, é forte empresário dos ramos pecuário e imobiliário.
Em 2002, revelou jogadores como Alex (zagueiro), Robinho (atacante), Diego (meia), Elano (meia) e Renato (meia). Emerson Leão é casado, pai de duas filhas e, além de profissional de futebol, é forte empresário dos ramos pecuário e imobiliário.
Em 24 de outubro de 2011 foi anunciado como novo técnico do São Paulo Futebol Clube, que estava sendo dirigido interinamente por Milton Cruz, após a saída de Adilson Batista. Em 26 de junho de 2012, após uma conversa de um minuto, o presidente Juvenal Juvêncio demitiu Leão.
A equipe do Morumbi havia sido eliminada da Copa do Brasil pelo Coritiba, desde que retornou, em outubro de 2011, o técnico somou: 26 vitórias, seis empates e 12 derrotas em 44 jogos. Em duas passagens são 89 jogos, com 53 vitórias e 18 empates, além de 18 derrotas. Em 2012 foram 36 jogos, com 23 vitórias, cinco empates e oito derrotas.
Em 30 de agosto de 2012 foi anunciado como técnico do São Caetano para dirigir a equipe na Série B do Campeonato Brasileiro, em substituição a Sérgio Guedes. Mas ficou pouco tempo, em 25 de outubro de 2012 foi demitido sem explicação pela diretoria da equipe do ABC Paulista.
Na segunda passagem de Leão pelo clube do ABC paulista, teve um aproveitamento de 66,6% dos pontos disputados. Ele também treinou o Azulão em 2006.
Abaixo, mais uma bela história da carreira de Emerson Leão, publicada pelo portal UOL no dia 5 de março de 2015
Leão defendeu 5 pênaltis e o juiz mandou voltar todos
Vagner Magalhães e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
Em outubro de 1974, Palmeiras e Portuguesa se enfrentam no Pacaembu. O árbitro Dulcídio Wanderley Boschilia marca pênalti para a Lusa. Enéas bate, Leão defende, e Dulcídio manda voltar a cobrança. Leão se adiantou. O goleiro palmeirense se irrita, chuta o ar, mas não se dirige ao árbitro. Leão sabia que que Dulcídio não era fácil e que ele poderia se dar mal.
Nova cobrança e Leão defende de novo. Sob a mesma justificativa, o juiz manda Enéas bater pela terceira vez. Mais uma vez Leão sai reclamando, dá um bico na bola, fala sozinho. Enéas, na terceira tentativa, marca: 1 a 0 para a Portuguesa. Dois minutos depois, sem titubear, Dulcídio anota pênalti para o Palmeiras e o jogo termina empatado por 1 a 1. Ao fim da partida, segundo relatos da época, o árbitro é escolhido pelas rádios o melhor em campo.
"Quando mandei o Enéas cobrar pela terceira vez, fiquei apavorado, o que não poderia acontecer comigo. Nunca ninguém teve peito de fazer aquilo. Acho que eu, no fundo, tive sorte por duas coisas. Primeira: não houve a necessidade de expulsar ninguém. Segunda, a Portuguesa, logo em seguida cometeu um pênalti e eu marquei imediatamente, sem hesitar. O negócio podia ter ficado pior. Na terceira cobrança, o Leão voltou a se adiantar. Se defendesse, eu metia um cartão amarelo na cara dele, ameaçava de expulsão e determinava nova cobrança. Se a bola fosse fora, agiria do mesmo jeito. É a lei", afirmou Dulcídio, em entrevista à revista Placar, três semanas depois da partida.
Onze meses mais tarde, Leão acredita estar vivendo um pesadelo. O Palmeiras vencia o Corinthians por 1 a 0 no Morumbi e Dulcídio marca pênalti contra o time do Parque Antártica. Ruço bate uma, duas, três vezes. Leão defende todas. Impassível, Dulcídio aponta para a marca do pênalti e indica que ele terá de ser cobrado pela quarta vez. Leão se adiantara em todas as cobranças. O volante é trocado pelo zagueiro Cláudio, que, enfim, marca para o Corinthians: novo empate por 1 a 1.
No jogo contra a Portuguesa, Leão ameaçou ficar de costas para o batedor, em protesto. "O Dulcídio disse: eu vou te expulsar se você fizer isso (risos). Eu respondi: mas é obrigado a ficar de frente?", relembra Leão. "Mas o Dulcídio tinha razão. Hoje, que é tão rigoroso, já deixam o goleiro se mexer lateralmente, e você vê em Copa do Mundo o cara se adiantando e o juiz não manda voltar. Isso é instinto natural do goleiro".
Leão lembra que os goleiros mais velhos eram mais manhosos. "Eles usavam mais a experiência pra isso. Começa conversando, traz o juiz pro seu lado, perturba o outro jogador que vai bater, só que agora eles podem se movimentar eu não sei se isso ajuda ou atrapalha".
Apesar da "perseguição", Leão se lembra com carinho do árbitro. "Ele era boa gente boa pra caramba, mas era temperamental. Agora, uma coisa muito importante é que ele era honesto. Por isso a gente aturava ele um pouco. Mas volto a falar. Tudo o que ele fez, ele tinha razão", afirma Leão.
O antigo goleiro do Palmeiras lembra que já nos anos 80, no final da carreira de Dulcídio, viveu outro episódio curioso com ele. "Eu fui jogar no Corinthians e ele me expulsou no intervalo de um jogo contra o Taubaté. Ele mandou um recado para o vestiário que eu estava expulso. Ele me xingou, me ameaçou, e eu fui no representante e mandei ele escrever na súmula o que ele tinha dito para mim. Um monte de ofensa. Se eu não posso xingá-lo, por que ele podia xingar?".
"Na confusão, a diretoria do Corinthians falou que se eu não voltasse, o time também não voltaria. Aí ele deixou eu voltar", recorda.
Depois disso, Dulcídio foi chamado ao Tribunal da Federação Paulista de Futebol. "Só que, claro, estava tudo acertado. Também fui lá. Ele estava na porta e eu disse. "Oi Dulcídio, tudo bem?" E ele: "Tudo bem". Entrei, falei, comprovei que ele tinha me xingado e saí. Falei tchau pro Dulcídio. Aí absolveram ele por falta de provas. É foda (...) Mas se fossem todos iguais a ele, seria ótimo. Ele não tinha nada de político, era verdadeiro". Boschilia morreu aos 60 anos, em 1998, vítima de um câncer raro.
Vagner Magalhães e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
Em outubro de 1974, Palmeiras e Portuguesa se enfrentam no Pacaembu. O árbitro Dulcídio Wanderley Boschilia marca pênalti para a Lusa. Enéas bate, Leão defende, e Dulcídio manda voltar a cobrança. Leão se adiantou. O goleiro palmeirense se irrita, chuta o ar, mas não se dirige ao árbitro. Leão sabia que que Dulcídio não era fácil e que ele poderia se dar mal.
Nova cobrança e Leão defende de novo. Sob a mesma justificativa, o juiz manda Enéas bater pela terceira vez. Mais uma vez Leão sai reclamando, dá um bico na bola, fala sozinho. Enéas, na terceira tentativa, marca: 1 a 0 para a Portuguesa. Dois minutos depois, sem titubear, Dulcídio anota pênalti para o Palmeiras e o jogo termina empatado por 1 a 1. Ao fim da partida, segundo relatos da época, o árbitro é escolhido pelas rádios o melhor em campo.
"Quando mandei o Enéas cobrar pela terceira vez, fiquei apavorado, o que não poderia acontecer comigo. Nunca ninguém teve peito de fazer aquilo. Acho que eu, no fundo, tive sorte por duas coisas. Primeira: não houve a necessidade de expulsar ninguém. Segunda, a Portuguesa, logo em seguida cometeu um pênalti e eu marquei imediatamente, sem hesitar. O negócio podia ter ficado pior. Na terceira cobrança, o Leão voltou a se adiantar. Se defendesse, eu metia um cartão amarelo na cara dele, ameaçava de expulsão e determinava nova cobrança. Se a bola fosse fora, agiria do mesmo jeito. É a lei", afirmou Dulcídio, em entrevista à revista Placar, três semanas depois da partida.
Onze meses mais tarde, Leão acredita estar vivendo um pesadelo. O Palmeiras vencia o Corinthians por 1 a 0 no Morumbi e Dulcídio marca pênalti contra o time do Parque Antártica. Ruço bate uma, duas, três vezes. Leão defende todas. Impassível, Dulcídio aponta para a marca do pênalti e indica que ele terá de ser cobrado pela quarta vez. Leão se adiantara em todas as cobranças. O volante é trocado pelo zagueiro Cláudio, que, enfim, marca para o Corinthians: novo empate por 1 a 1.
No jogo contra a Portuguesa, Leão ameaçou ficar de costas para o batedor, em protesto. "O Dulcídio disse: eu vou te expulsar se você fizer isso (risos). Eu respondi: mas é obrigado a ficar de frente?", relembra Leão. "Mas o Dulcídio tinha razão. Hoje, que é tão rigoroso, já deixam o goleiro se mexer lateralmente, e você vê em Copa do Mundo o cara se adiantando e o juiz não manda voltar. Isso é instinto natural do goleiro".
Leão lembra que os goleiros mais velhos eram mais manhosos. "Eles usavam mais a experiência pra isso. Começa conversando, traz o juiz pro seu lado, perturba o outro jogador que vai bater, só que agora eles podem se movimentar eu não sei se isso ajuda ou atrapalha".
Apesar da "perseguição", Leão se lembra com carinho do árbitro. "Ele era boa gente boa pra caramba, mas era temperamental. Agora, uma coisa muito importante é que ele era honesto. Por isso a gente aturava ele um pouco. Mas volto a falar. Tudo o que ele fez, ele tinha razão", afirma Leão.
O antigo goleiro do Palmeiras lembra que já nos anos 80, no final da carreira de Dulcídio, viveu outro episódio curioso com ele. "Eu fui jogar no Corinthians e ele me expulsou no intervalo de um jogo contra o Taubaté. Ele mandou um recado para o vestiário que eu estava expulso. Ele me xingou, me ameaçou, e eu fui no representante e mandei ele escrever na súmula o que ele tinha dito para mim. Um monte de ofensa. Se eu não posso xingá-lo, por que ele podia xingar?".
"Na confusão, a diretoria do Corinthians falou que se eu não voltasse, o time também não voltaria. Aí ele deixou eu voltar", recorda.
Depois disso, Dulcídio foi chamado ao Tribunal da Federação Paulista de Futebol. "Só que, claro, estava tudo acertado. Também fui lá. Ele estava na porta e eu disse. "Oi Dulcídio, tudo bem?" E ele: "Tudo bem". Entrei, falei, comprovei que ele tinha me xingado e saí. Falei tchau pro Dulcídio. Aí absolveram ele por falta de provas. É foda (...) Mas se fossem todos iguais a ele, seria ótimo. Ele não tinha nada de político, era verdadeiro". Boschilia morreu aos 60 anos, em 1998, vítima de um câncer raro.
ABAIXO, MATÉRIA PUBLICADA NO UOL EM 04 DE SETEMBRO DE 2017
BRUNO THADEU E LUIZA OLIVEIRA
DO UOL, EM SÃO PAULO
DO UOL, EM SÃO PAULO
Leão por Leão
"Eu acho que fui um batalhador e corri atrás daquilo que achei que podia melhorar. Recebi uma educação adequada, me tornei um homem conhecido, não me iludi por deixar de ser anônimo, não me iludi pelos elogios. E prestei muita atenção nas críticas. Aprendi muito, cresci muito e, hoje, tem coisas que eu olho para trás e dou risada. Todos os dias você procura ensinar um pouco e aprender um pouco.
Todo mundo fala só do que eu sou, ninguém sabe como foi difícil conquistar. Eu não tenho ilusão. Eu tive o meu início, minha subida, meu apogeu e minha manutenção. Todos nós temos que reconhecer a hora das coisas. Temos de aprender a envelhecer. Eu acho que sou um avô até bem comportado.
Não posso me arrepender das coisas. Tenho uma família bonita, sou casado com a mesma mulher há 47 anos. Isso já é um diferencial no Brasil, né? Eu costumo dizer que sou bom de olho. Se fosse ruim de olho, na minha profissão, já tinha ficado pelo meio do caminho há muito, muito tempo.
Hoje, sou um filho de tudo isso. Não tenho medo de nada não. Pode ir buscar o que quiser que a gente vai conversar."
Hoje, sou um filho de tudo isso. Não tenho medo de nada não. Pode ir buscar o que quiser que a gente vai conversar."
O UOL Esporte buscou e foi fundo. Em quase três horas, o Leão reinventado falou sem papas na língua: política, agronegócio, artes, o mundo moderno, sua família e o futebol - o atual e aquele que era jogado quando ele ainda estava dentro de campo. Confira:
O que Leão acha de: Romário, Lula, Trump, Bolsonaro...
"Fui disciplinador por necessidade. Gostaria de não ser"
Foto: Robson Ventura/Folhapress - retirada do UOL
A personalidade de Leão é inconfundível: disciplinador nato, linha dura com outros e com ele mesmo. Para ele, a necessidade o fez ser assim. “Olha, eu fui e sou disciplinador por necessidade. Gostaria de não ser. Porque os meus atletas precisavam que a gente mostrasse hierarquia ou virava bagunça. Jogador já é folgado, imagina sem comando... Às vezes, eles testam esse comando para ver se é isso mesmo. Quando percebem que é isso mesmo, acalmam e seguem uma trilha. Alguns você tem que dar a mão e acompanhar. Outros você manda, indica o caminho e ele vai sozinho”.
Essa característica de ler o jogador e entender o que era necessário para fazê-lo chegar ao sucesso criava atritos com atletas. Hoje, porém, são os próprios jogadores que são gratos pelas broncas. “Eu acho isso muito bonito. Reforça que eu fazia com sentimento. Alguns, hoje, são treinadores. `Poxa, Leão, você pegava no pé, me deu um esporro uma hora, me tirou do treino. Sabe que você tinha razão, meu? Hoje eu faço a mesma coisa´. Eu encontro casos assim. E não é um ou dois, não. É um monte! E outros que não são treinadores, são atletas ou ex-atletas, também falam: `Você pegava no meu pé, mas era gostoso´”.
“Esse é um reconhecimento. Na hora de prestar conta, tudo isso vai estar incluso. Eu não sou um homem deprimido, não sou um homem de mal com a vida. Muito pelo contrário. Me sinto perfeitamente feliz”.
"Em uma entrevista, o ex-presidente do Uruguai me convenceu, com palavras e também com a simplicidade dele, que nós não precisamos de muito para viver. Podemos ser felizes com muito menos. Menos, inclusive, do que eu tenho. Entendeu? Dá para fazer muita coisa, nós não precisamos de tudo. Isso leva a uma amargura, a uma revolta...
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Sobre o que aprendeu com José Mujica, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015
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Sobre o que aprendeu com José Mujica, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015
"Errei ao aceitar ser técnico da seleção brasileira"
Sou produto do futebol"
Foto: Julia Chequer/Folhapress - retirada do UOL
Hoje, Leão está bem mais manso do que já foi um dia. Mas o estilo `durão´ dos tempos de futebol ainda sobrevive em casa. Ele admite que, às vezes, passa do ponto e se arrepende. “Ainda hoje, como pai, às vezes erro. E aí você tem que pedir desculpas. Você vai refazer o negócio? Errei, desculpa, não devia ter pegado tão pesado. Porque a minha carreira foi assim, a minha vida foi assim”, conta.
“Às vezes, uma resposta acaba mal encaixada, entendeu? Você magoa as pessoas. Não precisava falar desse jeito, podia encontrar maneira, mas saiu assim... As minhas duas profissões exigiram isso de mim. Sou produto do meio, filho do futebol. Só que a educação que recebi, a cobrança dessa educação dos meus pais, continua prevalecendo até hoje”.
A discrição sempre foi uma marca na vida pessoal. Em casa, ele faz o tipo “super”. Seja como pai, seja como avô. “Eu trago para dentro da minha casa tudo isso. Tenho um neto de três anos e meio e uma neta de sete meses. Tudo é avô, é avó. Isso é normal. Vão sempre voltar para minha casa. Por que? Porque se sentem maravilhosamente bem protegidos, né?”.
Nova vida como comentarista
Leão, hoje, é comentarista do Esporte Interativo. Feliz na nova função, acredita que é uma forma útil de usar o conhecimento adquirido em 50 anos de profissão.
“O que eu estou fazendo aqui hoje é o que me dá prazer. Primeiro, você aprende a conviver com mais pessoas. Quando você fica de sim e de não, o seu limite de amizade diminui muito porque é você que fala não. E tem também o fator de envelhecimento, também. Então aqui é uma maneira de estar no vídeo, contribuindo com o esporte ainda, mostrando a realidade do que me ensinaram nos 50 anos de atividade profissional. E, diria eu, permitindo pensar que é possível ter uma terceira profissão”.
Ainda é um trabalho que lida com futebol, mas há uma diferença marcante. Antes, as decisões eram dele. Agora, precisa lidar com opiniões diferentes, o que nem sempre é fácil. “Às vezes, não entro muito em debate quando os meus companheiros de trabalho estão ali, na mesa, discutindo. Olho e penso: `Nossa, eu penso completamente diferente do que eles tão falando´. E eles estão falando com tanta veemência, acreditam naquilo que estão falando.... Por que que eu vou decepcioná-los? Deixa, né... Se me perguntarem, eu falo. Mas se não perguntam, não falo”.
O próximo passo de Leão
"Quem dá o tamanho da sua asa, infelizmente, não é você. São os próprios donos do mercado, que é a televisão
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Sobre como vê o seu trabalho atual
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Sobre como vê o seu trabalho atual
"Agora, eu penso bem mais alto. Acho que nós estamos num primeiro passo, mas sem pressa, entendeu?
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Admitindo que faz planos para crescer na carreira
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Admitindo que faz planos para crescer na carreira
Paixão pelas artes...
Foto: Rubens Cavallari/Folhapress - retirada do UOL
Uma das grandes paixões de Leão são as artes plásticas, assunto que estudou a fundo. “Para você chegar a conhecer alguma coisa, na arte, primeiro precisa estudar. Precisa ler, precisa ouvir as pessoas que sabem, precisa participar do meio. Você vai adquirindo cultura aos poucos e nunca para. Então eu adquiri um gosto por isso. Sou um homem que gosta do design brasileiro. Adquiri algumas peças com o tempo. Depois, mudei. Comecei a olhar para a pintura. Sou mais moderno do que contemporâneo, mas conheço pessoas e artistas contemporâneos. Estou nessa fase de transição”.
Leão tem amizades no meio e costuma frequentar galerias no fim da tarde para conversar, aprender e descansar. Só não compra mais obras com a frequência que costumava. “Infelizmente, arte é caro. Alguns que têm muito dinheiro e pouca cultura descobriram que é uma boa coisa ter. O que você adquiria há 10 anos, hoje não compra nem 10% com o mesmo dinheiro”.
...e amor pela fazenda
Foto: Paulo Whitaker/Reuters - retirada do UOL
Fazendeiro de bota, chapéu e caminhonete. Leão é ruralista. Empresário de agronegócios, o treinador cria gado e planta soja em suas fazendas no interior do Mato Grosso. Por uma semana no mês, ele para tudo e pega 1500 km de estrada até as suas propriedades. Não tem contato com televisão, internet, nem qualquer forma de tecnologia. Fala só com os funcionários.
“É um prazer associado a negócio, certo? Porque o ruralista é um apaixonado. E é ele que segura o Brasil. É o que segura o Brasil, preste atenção. Essas propagandas que fazem na televisão são realmente verdade. Se o campo parar, para o Brasil”.
Mesmo assim, considera “quase impossível” ser fazendeiro no Brasil, especialmente pelas altas taxas de impostos. Dá mais trabalho e menos dinheiro que o futebol. “Todo ano você vai ver que está no vermelho. Você está sempre nervoso. Os impostos estão cada vez maiores e o seu lucro cada vez menor”, afirma. “Todos estão insatisfeitos. No ano passado, a safra foi horrível, a seca foi monstro, matou tudo. E, aí, você começa tudo do zero de novo? E os impostos?”
"O homem do campo deve ser elogiado porque é difícil. É difícil mesmo! Estou desde 1974 nesse mundo do campo e fui só crescendo e aprendendo. Estou quase perdendo a competição. Para os impostos, para as circunstâncias de necessitar de muita mão de obra, de muito fertilizante, de muita água, de muita chuva. E não ter nada disso
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Sobre sua atual situação do agronegócio
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Sobre sua atual situação do agronegócio
O efeito JBS nos negócios
A vida dos ruralistas ficou ainda mais difícil com os escândalos envolvendo a JBS, a maior processadora de carne do mundo. A empresa é alvo de diversas operações da Polícia Federal pelo pagamento milionário de propinas a agentes públicos. Leão vende carne para a empresa. “Nós somos comandados por eles. Eles criaram uma cadeia de produção que não tem jeito de não fazer negócio com eles. Existe um boicote atualmente, mas ele precisaria ser muito, muito maior. O problema é que, pela necessidade, os produtores têm que vender para eles. Se não, como vão se sustentar?”
Distância da política
Foto: UOL
A decepção com o atual cenário político brasileiro é latente em Leão. O técnico já foi convidado para se candidatar a um cargo público, mas é taxativo: jamais aceitaria.
"Eu não vou ser político. É um não rapidinho. Eu não posso ser político, eu não sou político!”
“Eu fui convidado algumas vezes e não aceitei porque não sei fazer isso. Ser político é transferir responsabilidades ou permitir que o elástico estique o máximo possível. E, se estourar, paciência. Eu não sei fazer isso. Não posso fazer”.
Ainda assim, Leão não descarta ocupar um cargo público para contribuir com o esporte. “Acho que tem homens que não são políticos, mas que ocupam cargos públicos. O que que eu sei fazer? Mexer com esporte. Posso ser um secretário de esporte. Isso é um cargo, mas não é ser político”.
"O que existe hoje é uma agressividade excessiva, uma deturpação de ideias. A Lava Jato está nos mostrando os pontos negativos do país e nós estamos envergonhados. Que Brasil é esse, companheiro? Nesse Brasil eu não quero viver mais, não
--v--------Sobre a decepção com o Brasil atual
--v--------Sobre a decepção com o Brasil atual
"Eu quero um outro Brasil. Para o seu filho, para o seu neto. Mas ainda vamos sofrer muito. Acho que estamos começando um ciclo de renovação e de prosperidade. Agora, com esses políticos que aí estão, vai ser difícil. Infelizmente, o brasileiro perdeu a rota
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Analisando o momento político
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Analisando o momento político
Um cara conservador
"Não sou antigo. Sou atual. Mas um atual que tem um limite de aceitação. Quando chega esse limite, não ultrapasso
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Sobre como se vê no mundo atual
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Sobre como se vê no mundo atual
"Outro dia, fui a uma dessas cadeias de restaurantes e entrou um casal de meninas. Pintadas e decoradas com tatuagem. É direito, problema delas. Mas começaram a dar show, eu digo assim. Fiquei constrangido. Saí e não comprei o que queria. Será que isso é preconceito? Eu acho que não. Eu me senti envergonhado
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Sobre sua visão de mundo (1)
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Sobre sua visão de mundo (1)
"Eu vejo a juventude em frente a um bar, bebendo e comendo na calçada. Mas que mundo é esse? O cara faz uma baita coisa legal lá dentro e você vai ficar na calçada conversando? Por que? Para não pagar consumação? Se prepare mais para ter dinheiro no bolso para pagar a consumação, se conseguir. Se não, não force a barra
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Sobre sua visão de mundo (2)
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Sobre sua visão de mundo (2)
"Agora, me diz uma coisa: por que quem faz uma tatuagem nunca para ali, em uma só? A pele foi feita para isso? Não foi
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Sobre sua visão de mundo (3)
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Sobre sua visão de mundo (3)
"No dia em que respeitarem a figura do treinador, eu volto"
Os jogadores de Leão
Foto: Almeida Rocha/Folha Imagem - retirada do UOL
Fabio Costa: ele atravessava a rua e ia comer sanduíche
Emerson Leão foi marcante na vida de muitos atletas. Fábio Costa é um deles. O goleiro se matava nos treinos do Santos, mas estava sempre acima do peso. O motivo? As escapadas para o McDonald´s em frente ao CT. Leão, claro, não facilitava a vida.
“O pior de tudo é quando você cansa de ficar em cima. Mostra que você abandonou. E quando você abandona, esse não prospera mais. Nessa época, ele estava mais no peso certo e jogou mais. Por quê? Porque era necessário. Estava entre os atletas com que eu cobrava mais”.
“O treinador de goleiros pegava muito no pé dele. Treinava muito, atravessava a rua e ia comer sanduíche. Como iria funcionar? Se fosse um negócio legal, tudo bem. Mas nem todo sanduíche é legal, com a proteína necessária. Na minha função, era preciso orientá-lo. Era parte da minha obrigação e, principalmente, do meu salário. Se eu pegava muito ou pouco no pé dos atletas eu não sei. Mas que faz parte, faz parte”.
Leão sobre Neto: "O único com quem me desequilibrei"
Foto: Fernando Santos/Folhapress - retirada do UOL
Emerson Leão carrega alguns arrependimentos. O maior deles foi por ter pegado pesado demais com Neto. Na sua visão, o craque precisava de “correção”, mas o técnico exagerou. “Vou no programa dele, tenho um bom relacionamento. Já disse que foi o único rapaz com quem eu me desequilibrei. Ainda bem que coisa pior não aconteceu. Eu estava errado e, como chefe na hierarquia, não podia chegar no limite. Mas ele abusou tanto que eu cheguei na porta do limite. Ainda bem que ele não quis testar”.
“Não sou perfeito. Errei. Agora se eu errar, por favor, me mostre o erro para que eu aprenda. Através dos anos, você vai repensando uma série de coisas que você fez. Não precisava fazer aquilo. Peguei pesado. Ele não tinha nem experiência, nem inteligência para merecer aquilo. Então, um pouco foi erro meu”.
Ainda assim, ele considera que o craque precisava ser punido. “O Neto era um excelente jogador, mas precisava de correção. Ninguém o corrigiu quando ele estava iniciando, ninguém teve coragem. Por quê? Porque o efeito qualidade dele é muito grande e os caras tinham medo de ficar sem ele. E daí? Daí vamos fazer o certo, pô! Não fez o certo? Paciência, tem que saber que é igual a todos”.
Por que Robinho não foi o melhor do mundo?
Foto: Friedemann Vogel/Getty Images - retirada do UOL
Robinho foi um dos grandes talentos comandados por Leão. E como boa parte das pessoas que acompanharam a campanha histórica do título do Campeonato Brasileiro de 2002, ele também achava que o craque se tornaria um dos melhores do mundo.
“Erraram com ele. Mudaram o Robinho. O Robinho da Europa não era o Robinho do Brasil. Inventaram que ele era tão magro que tinha que adquirir musculatura. Ele não tinha biótipo para isso. Tinha que ser magro e velocista. Driblando no caminho do gol. Pararam de treinar o Robinho específico. Ele teve sua ascensão interrompida prematuramente. Não sei se não sabiam como ensiná-lo, mas o Robinho começou a ser coadjuvante. O problema é que ele nasceu para ser estrela.”
O declínio passou por uma mudança de função. “Começou a voltar para marcar. Mudaram a posição e ele não se impôs. Porque se ele falasse `Não! Eu jogo aqui, é aqui que eu sei jogar, foi para jogar aqui que vocês foram me buscar´ isso mudaria. Eu falei isso para ele, uma vez. Mas ele foi coadjuvante. Que que eu posso fazer?”
Para o técnico, o jogador fez escolhas erradas. “Não tinha clima onde ele estava. Ele escolheu o time errado. Às vezes, nem sempre o melhor time é o bom para você. Tem que ser o time em que você se encaixa. Você vê que o Neymar, que está penando até agora com o domínio do Messi. Os caras falam que ele é coadjuvante do Messi”.
"O Neymar é mais genioso que o Robinho. Não é mais talentoso. É mais driblador do que o Robinho, mas os dois são excelentes. Eu acho que o Neymar carrega dentro dele menos alegria, mas mais objetividade que o Robinho. A diferença dos dois é essa
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Sobre as duas maiores joias reveladas pelo Santos nos últimos anos
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Sobre as duas maiores joias reveladas pelo Santos nos últimos anos
Polêmica com argentinos: "Não sou contra ninguém"
Foto: Arquivo/Jorge Araújo/Folhapress - retirada do UOL
A fama de não gostar de argentinos perseguiu Leão durante a carreira. A relação conturbada com Carlos Tevez e Javier Mascherano nos tempos de Corinthians foi o pivô disso. A polêmica surgiu quando ele tirou a braçadeira de capitão do atacante. Leão nega preconceito e dá uma razão engraçada para a decisão.
“Você já conversou com ele em velocidade? Você entende alguma palavra do que ele fala? Como o árbitro vai entender? O capitão é um representante da gente ali dentro. Se eu tenho um representante que o árbitro entende, eu pego. Então, coloquei um capitão brasileiro, que falava o mesmo idioma do árbitro. Agora, o Tevez nunca deixou de ser titular. Nenhum dos dois (Tevez e Mascherano), alias. Porque jogavam bola. Eu não sou contra ninguém. Sou contra o cara que é ruim”.
Leão diz que nunca prejudicou Tevez e Mascherano. Apenas colocou ordem na casa. “Antes de mim, o treinador marcava treino no quadro negro. Eles apagavam e falavam que não iam treinar. Comigo, a coisa mudou. O Corinthians não caiu, mesmo sem o Tevez, mesmo sem o Mascherano. Ganhou pra caramba, porque os outros sabiam que a igualdade, que não exsitia, passou a existir. Os protegidos por esses empresários tinham qualquer regalia possível e imaginável”.
Leão e a saída de Tevez do Corinthians
No fim das contas, os dois craques acabaram deixando o Corinthians depois de um problema com o treinador. Porém, foi uma questão técnica, não profissional. Os dois foram convocados para a seleção argentina para amistosos marcados fora da “Data Fifa”, dias em que os clubes são obrigados a liberar os atletas.
“Eu falei que não autorizava os dois a irem para seleção. Disse ao Tevez: `Você é o titular do time. Se nós estivéssemos em primeiro lugar, estava dispensado. Se nós estivéssemos em último, estava dispensado. Se estivéssemos no meio, estava dispensado´. Mas nós estávamos na linha do rebaixamento! Tínhamos que ganhar 81% dos pontos! Como que eu posso abrir mão de um centroavante goleador como o Tevez?”
“Instituíram a Data Fifa para ser obrigado a ceder o atleta. Mas não era data Fifa e eu não era obrigado a ceder o atleta. Mas ele foi ao presidente, que também disse não. Aí, Tevez disse: `Então eu vou jogar pela última vez´. Foi embora e nunca mais voltou”.
Nilmar saiu do Corinthians por causa do empresário
Fernando Donasci/Folhapress - retirada do UOL
Leão sempre teve uma postura crítica em relação ao trabalho dos empresários de futebol. O treinador chegou ao ponto de mandar o atacante Nilmar embora do Corinthians porque o agente do jogador tentou interferir no seu trabalho.
“Um dia eu falei uma coisa para um atleta que estava concentrado na pré-temporada. O empresário estava vendendo esse atleta sem o consentimento do clube. Ele disse: `Ó, Leão, o cara vai jogar assim, assim e assim´. Eu falei: `Ele não vai nem entrar. Estou te dizendo que não vai entrar´. E não entrou”, lembra.
“Até expliquei para ele: `Olha, estou te instruindo assim e assim, acho que não é a hora, depois você vai ter tempo para isso´. Mas ele não me ouviu. Eu era o treinador e o chefe. A autoridade máxima naquele momento. Falei: `Presta atenção. Se você sair daqui e passar do portão, nunca mais entra comigo´. Não era uma ameaça, era uma realidade. Mas o outro teve mais força do que o próprio treinador. Ele foi embora e, logicamente, nunca mais voltou”, conta.
O treinador diz que nunca recebeu qualquer proposta indecorosa de empresários. “Comigo não. Eles já sabem. Você só se aproxima de alguém para fazer algumas coisas se você conhece o perfil daquela pessoa. Por isso eu não sou um treinador conveniente para alguns clubes”.
Leão x empresários
"Empresário é negociante, só vê o lucro. Não está nem aí. Acho que empresário deveria ser igual a corretor de imóveis. Como você faz com corretor? Escolhe bairro, tamanho e ele vai atrás. No futebol, você diria que quer um meia ou um centroavante e ele que saia para procurar. Apresentou, comprou? Ganha os 10%. É um vendedor, acabou ali e tchau...
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Sobre como deveria ser o trabalho dos empresários
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Sobre como deveria ser o trabalho dos empresários
"Mas os empresários não ficam nisso. Sugam até o final o atleta. Alguns, pouquíssimos, orientam o atleta. Outros, só sugam mesmo. É por isso que jogadores passam a ser dependentes. Como atletas e como homens. Viram todos bibelôs que não sabem fazer nada extracampo. Salvo exceções. Alguns acabam se revoltando e se libertando. É uma alforria
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Sobre como eles realmente agem
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Sobre como eles realmente agem
Dener foi vencido pelas companhias
J.F.Diorio/Folhapress - retirada do UOL
Dener foi um dos maiores talentos surgidos no Brasil nos anos 90 e encantou o país inteiro com seus dribles desconcertantes. Foi Leão quem ajudou a lançar o adolescente de apenas 17 anos na Portuguesa. Na visão do comandante, o futuro era promissor. O craque, porém, morreu em um acidente de carro em 1994.
“Ele era um misto de Neymar com Robinho. Talentosíssimo. Sabia fazer tudo. Foi criado com os problemas do submundo, com companhias perigosíssimas. E as companhias perigosíssimas venceram o talento do Dener”.
“Ele se tornou incontrolável pelas companhias e faleceu precocemente. Ele era maravilhoso, um desses talentos que você não sabe como aparece. Mas, por outro lado, o submundo das ofertas tinha mais poder sobre ele do que o futebol. Deu no que deu. Perdemos um craque”, conta. Leão relata que já viu muitos problemas no futebol, mas nada que se compare a Dener. “O submundo da droga, da oferta, da ilusão, está presente em alguns momentos. Mas igual ao que tinha em volta do Dener, não vi mais. A barra era mais pesada”.
Leão e os técnicos
Luis Pires/Vipcomm - retirada do UOL
Polêmica com Luxa
Leão e Vanderlei Luxemburgo não se falam. A relação ruiu de vez quando Leão reassumiu o Santos, em 2004. Na época, especulou-se que Luxemburgo teria se oferecido ao time da Vila quando Leão ainda era o técnico do clube. Leão nega que esse tenha sido o motivo da ruptura da relação.
“Eu separo as coisas. Mas têm coisas de bastidores que vocês desconhecem e que nós conhecemos. Eu descobri uma série de coisas que não me agradavam. E, em vez de tomar certas decisões, eu decidi me afastar. Não gosto. Não comento. Acabou, simples”.
Autuori reconheceu papel de Leão por Mundial de 2005
Em 2005, Leão deixou o São Paulo meses antes da conquista do Mundial de Clubes, no Japão. A saída inesperada ocorreu por uma “dívida de gratidão” com um amigo japonês, mas, mesmo assim, o treinador se sentiu parte da conquista. O time do Morumbi foi comandado por Paulo Autuori.
“Depois de um mês que eu estava no Japão, eu recebi um telefonema. Quem era? O Autuori. Ligou para agradecer. Eu respondi: `Que que foi, Autuori, não fiz nada!´. Ele disse: `Não, eu que não fiz nada! O time estava tudo pronto´. Todo treinador que entra em um time sempre tem que dar o pitaco dele. O Autuori não mexeu. Então esse foi o maior agradecimento. Eu sabia que ia ganhar porque o time era bom e estava preparado para ganhar. E ganhou”.
Ceni não estava preparado para as dificuldades
Leão diz que Rogério Ceni cometeu um grande erro como treinador do São Paulo: achar que a condição de ídolo traria estabilidade como treinador. Ceni poderia ter se preparado um pouco mais, opina.
“Ele [Ceni] estava pensando que poderia repetir como treinador o que fez como atleta, mas não é assim. Isso já mostra que a princípio não estava preparado psicologicamente”.
Por seis meses, Ceni comandou o São Paulo em 35 jogos, com 49% de aproveitamento. “Eu acho que ele estava no lugar errado e na hora errada, e ninguém percebeu isso. Só isso que aconteceu”, conclui.
Elogios a Jair Ventura e Fábio Carille
Ao falar da nova geração de técnicos, Leão destaca o trabalho de dois deles: Jair Ventura e Fábio Carille. “Eu acho que eles percorreram o melhor caminho: conheceram os corredores antes de se tornarem treinadores do time principal”.
“O do Corinthians ficou oito anos na base. Essas pessoas conviveram tanto tempo no ambiente que cumprimentam os torcedores pelo nome. Conhecem todo mundo há muito tempo. E muitos desses, por uma necessidade até financeira, como Botafogo e Corinthians, com todas as dívidas, recorreram a esses meninos que já eram conhecidos internamente. Isso facilitou muito. Algo que não aconteceu com o Rogério Ceni, que pulou de jogador para técnico”.
Tite: entrou por mérito, não política
Leão destaca que Tite chegou ao comando da seleção brasileira por merecimento. “Chegou a vez dele [Tite]. Eu acho que ficou mais fácil para ele entrar porque nós estávamos derrotados. Qualquer coisa que fizesse seria lucro. Inicialmente, ele levou uma turminha que era dele no Corinthians, substituindo aos poucos. Depois trouxe alguns indesejáveis da seleção antiga da Copa do Mundo. Eles estão voltando aos poucos, sem muita gente perceber”.
“Ele tem aquele jeito de falar, não sei se estudou teologia ou não, meio pastor, meio… É interessante, tem que apoiá-lo. É a vez dele, e acabou. Ele não entrou por política ou por amigo, mas por mérito”.
Sobre cabelos acaju: "Me chamarem de Papai Noel no treino. Resolvi pintar"
Foto: Homero Sérgio/Folhapress - retirada do UOL
Emerson Leão não ficou famoso apenas pelo talento em campo. Com fama de galã, fazia sucesso com a mulherada. Até hoje é lembrado por protagonizar um comercial de cuecas em meados dos anos 70. É um pioneiro do marketing esportivo.
“Até hoje eu encontro pessoas que só falam das minhas pernas. De todas as propagandas que eu fiz, e foram várias, aquela ficou marcada. Fiz até propaganda de frango. Já pensou entrar em campo fazendo propaganda de frango? Pô, se você não fosse determinado, não treinasse, não fosse bom, estaria perdido”.
“Eu acho legal porque marcou uma época. Foi aí que os empresários começaram a olhar para esse segmento do futebol como um negócio interessante. Fomos cobaias do negócio. E ser cobaia algumas vezes é bom. Eu era ingênuo na época, né? Achava gozado, não sabia fazer as coisas. As pessoas foram ensinando. As liberdades que eles tinham, eu não tinha. Hoje, ficar pelado na frente dos outros é bonito, é nu, é não sei o que lá...”
Leão sabe que hoje em dia ganharia valores muito mais altos para fazer propagandas, mas se sente realizado por abrir portas para que craques como Neymar e Cristiano Ronaldo ganhassem fortunas promovendo marcas. “Sim (abri portas), claro que sim. Como muitos abriram portas também. Isso é importantíssimo. Hoje, eles ganham muito mais em propagandas do que com futebol. Mas tem mérito. Se eles não vendessem nada, não seriam procurados. Então, eu não sou contra ninguém ganhar muito. Desde que ganhe honestamente”.
Copa de 70: Sabia que era melhor que o titular
Foto: Folhapress - retirada do UOL
Leão era o terceiro goleiro da seleção em 1970. Então com 19 anos, foi ao México para aprender, apesar de se considerar o melhor entre os três da posição (os outros eram Félix e Ado).
“Ser um goleiro campeão do mundo com 20 anos era magnífico, principalmente quando o titular tinha idade para parar de jogar e você se considerava melhor. Então eu falei: `Peraí, eu vou aqui aprender, mas na próxima Copa do Mundo eu vou jogar. Eu não vou a duas Copas para assistir, não´”.
“É mais ou menos o seguinte: você é um soldadinho, depois passa a sargento, a capitão, e na Copa seguinte é o general”.
Por que Leão não foi para a Copa de 1982?
Foto: Fernando Santos/Folhapress - retirada do UOL
Uma grande dúvida paira no ar até hoje. Por que Emerson Leão não foi convocado por Telê Santana para a Copa do Mundo de 1982? O consenso, na época, era que a primeira opção deveria ser ele, então campeão brasileiro com o Grêmio. Waldir Peres foi titular e ele não foi chamado.
“Até hoje eu não sei porque não fui convocado. A minha insatisfação foi muito grande porque eu fazia parte daquilo. Reuni méritos para que isso acontecesse. Em todas as votações era unânime, mas apenas uma cabeça tomou uma decisão que eu tive que respeitar, porque era a do treinador”.
Leão só conheceu Telê Santana quatro anos depois da Copa, quando atuava pelo Vasco. Mas nunca quis perguntar ao técnico o que aconteceu. “Para quê? Deixa morrer com isso, entendeu? Acho que alguém interferiu, um conselheiro dele que queria outro. Ou alguém não gostava particularmente de mim. Eu não sei”.
"Telê disse na televisão, não fui eu que perguntei: "Quando forem jogos oficiais, escolho o Leão, capitão da equipe". Copa do Mundo deixou de ser oficial?
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Lembrando de como achou estranha a decisão de não ir à Copa
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Lembrando de como achou estranha a decisão de não ir à Copa
"Só apareci no mundo dele quatro anos depois. Quatro anos mais velho. E ele me convocou para ficar assistindo à Copa, não para jogar
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Sobre ter ido para o Mundial de 1986
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Sobre ter ido para o Mundial de 1986
"Torci de toda maneira para a seleção brasileira. Fiz de tudo! Uma das poucas vezes em que eu chorei pelo futebol foi na nossa derrota lá no Sarriá, que acompanhei de perto. Pedi dispensa do clube, o Grêmio, porque estava com a mão fraturada. Fiz o último comentário e retornei ao Brasil. Para mim foi altamente desagradável
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Sobre seu trabalho de comentarista na TV Globo em 1982
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Sobre seu trabalho de comentarista na TV Globo em 1982
Democracia Corintiana: "Não era democracia. Eram poucos líderes"
Abaixo, confira imagens incríveis do Canal 100 de Flamengo 0 x 2 Palmeiras, em 1973, no Maracanã. O jogo, válido pelo Brasileir&
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